“Os alunos dos nonos anos fizeram a leitura de diferentes contos de Clarice Lispector, buscando analisar o estilo de escrita e as temáticas presentes nas obras da autora. Eles fizeram, mais tarde, uma roda de conversa sobre suas leituras, na qual expuseram as partes que mais lhes chamaram atenção nos contos e analisaram, em conjunto, as principais características que encontraram em Clarice e que a diferencia de outros autores nacionais e internacionais. Posteriormente, os alunos foram convidados a escrever contos no estilo da autora, explorando a maneira inusitada com que ela tratava de assuntos do cotidiano, mostrando ao leitor um ponto de vista desnaturalizado das coisas da vida”.
Vinícius Hilário de Lima
Professor de Literatura
Colégio Sete de Setembro COC
“As imagens aqui apresentadas traduzem a apropriação visual desenvolvida pelos alunos do 9º ano após a leitura e a análise de textos da escritora modernista Clarice Lispector. As interpretações e sentimentos gerados pelos textos provocaram a produção visual dos alunos, gerando uma explosão de imagens que mostram as relações estabelecidas neste processo. Processo de ruptura com o inerte e apresentação de movimentos criadores. Ruptura que era tão peculiar à Clarice enquanto escritora da vida e da liberdade”.
Daniela Marco Antonio Alvisi
Arte-educadora
Colégio Sete de Setembro COC
Os Vizinhos
Reconheço uma face dentre as
várias que procuram pelo emprego, era uma velha vizinha, tínhamos a mesma
idade, costumávamos a brincar juntos.
Contudo, estava diferente, parecia mais bonita, feminina. Havíamos nos
visto pela última vez há alguns anos, antes de me mudar para Belo Horizonte,
naquela época usava roupas masculinas, com um cabelo curto, era facilmente
confundida com um menino.
Lembro-me de quando a conheci, se mudou para a casa ao lado, era tímida,
sempre se escondendo. Apenas depois de uns anos decido conversar com ela, pouco
menos vergonhosa, rapidamente nos tornamos bons amigos, praticamente
inseparáveis.
Um ano após nos tornarmos “irmãos” ela passa por uma fase difícil, perde
os pais, ajudo-a com esse momento ruim e descubro que acabei despertando um
sentimento a mais, naquele tempo era inocente, jamais pensei que me
apaixonaria.
Entretanto os anos foram se passando e aquele aperto no coração ia
ficando cada vez mais forte.
Um dia ela vêm chorando até mim, dizendo que sua mãe iria se casar
novamente e que iria fugir de casa comigo, concordo com ela e fugimos de
tardezinha para uma floresta ao lado da cidade e lá passamos a noite, olhando
para as estrelas.
O Sol nascia e ouvimos barulhos de sirenes, sabíamos que uma hora nossos
pais iriam achar-nos. Ela já estava sentindo-se melhor e voltou para casa feliz
para conhecer o padrasto. Já eu, recebi uma notícia de meus pais, iríamos nos
mudar para longe por conta do trabalho do meu pai.
Tive que me despedir da minha vizinha, foi o momento mais triste da
minha vida, não achávamos que nos encontraríamos novamente. Todavia ali estava
ela, com um vestido e cabelos longos. Não sabia o que fazer, decido
aproximar-me, mas o medo e vergonha batem e passo reto, não acho que me
reconheceu.
Wallison Ribeiro Mendes - 9°ano A
Um Dia de
Festa
Uma pessoa marca uma festa em sua casa. Ela chama amigos,
familiares e bastante gente. É um lugar de alegria, muita música, risadas,
conversas. Todos parecem estar felizes.
Mas tem uma pessoa no meio daquilo tudo
que não está bem. Ela esconde sua tristeza e solidão com um sorriso falso e diz
que está ótima.
"O que eu estou fazendo aqui?" Ela pensa.
"Por que todos estão tão felizes e eu estou sozinho?"
Essa pessoa enfrenta um de seus maiores medos: se sentir
sozinho mesmo no meio de uma multidão. Ela quer sair correndo e nunca mais ser
vista.
E um de seus maiores problemas é ter vergonha disso, e por
isso não ter coragem de contar a ninguém.
Assim, o sentimento continua aumentando, cada vez mais e
mais, e apenas a solidão prevalece, até mesmo em um dia de festa.
Mas se ela não desistir, se ela continuar tentando, algum
dia vai encontrar sua companhia. Ela vai encontrar amigos verdadeiros que se
importam com ela.
E aí sim todos os seus dias serão uma
festa.
André Luiz Melo dos Santos Franco - 9º ano B
Só sei que nada sei
Eu andava pelas ruas desertas. Sentia
Frio, perdera meu casaco. Era um bairro escuro, afastado da cidade. Havia
poucas pessoas naquela região, a maioria dormindo cobertos de papelões. Mesmo
dormindo pareciam tristes, solitários. O
lar deles eram ruas mal asfaltadas, com buracos onde havia barro, poeira,
sujeira. Nos trincos cresciam pequenas plantas, maltratadas e pisadas.
Não sabia que horas eram, mas não me
importava. Queria me libertar da rotina, dos rótulos. Não sei como chegara ali,
só continuava caminhando para lugar nenhum.
Em uma das esquinas, encontrei uma
menina mais jovem que eu, não saberia dizer sua idade. Quando passei ela olhou
nos meus olhos fiquei curiosa para saber o que estaria ela pensando. Então
sentei ao seu lado.
Puxei assunto, perguntando como ela
estava e ela respondeu: “com fome”. Mas não tinha nada para lhe oferecer. Então
respondi que eu também, embora sabendo que ela passa por isso repetidas vezes.
Perguntei onde ela dormia, então ela me mostrou a suja e esfarrapada manta,
encostada em um portão enferrujado. Eu não sabia mais palavras para dizer
àquela menina. Despedi-me e andei mais um quarteirão.
Entrei em uma rua sem saída. No limite havia mato, com
insetos em volta e sacolas jogadas. Essa rua parecia esquecida pelo tempo. Não havia
poste, não havia luz alguma. O que iluminava aquele lugar era a claridade da
lua, que brilhava intensamente naquela noite.
Resolvi voltar para um lugar mais
transitado. Passei por todas aquelas ruas novamente. Observando as casas
simples e abandonadas, terrenos à venda esquecidos, animais aproveitando de
qualquer lixo jogado. As mesmas pessoas dormindo, com alguma garrafa ao lado e
algum animal do outro.
Agora meu corpo começava a doer. Vi
uma barata, percebi como um inseto daquele não vive, mas sobrevive. E quando
penso naquelas pessoas, invisíveis na sociedade, não são diferentes. Aquelas
pessoa encontram um lugar escuro para dormir, vagam pelas ruas em busca de
qualquer alimento, voltam para seus cantos escuros, se escondem.
Comecei a pensar há quanto tempo eles
vivem assim. Quanto tempo leva para se acostumarem. Quanto tempo passou até
eles perderem a esperança. Parece não haver nenhum jeito de sair dali. Enquanto
eles procuram algum alimento, outros estão pensando em votar em um político que
promete ser perfeito. Mesmo sabendo que mudando o prefeito, ou presidente, ou
quem quer que seja, nada mudará para todos. Seja um político bom ou não, os
esquecidos continuam com a mesma vida de sempre.
Enquanto a consciência das pessoas
não muda, nada acontecerá na vida de ninguém.
Cheguei em casa, liguei a televisão.
Falava-se sobre pessoas morrendo de fome.
Mudei de canal.
Maria
Clara K. Junqueira 9º ano A
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